domingo, 15 de novembro de 2009

Testemunha da Dor

Em 25 anos trabalhando como repórter policial, presenciei muita gente chorando. Choro do médico que viu os filhos morrendo dentro de um carro em chamas, choro da mãe que perdeu dois filhos assassinados na briga por um óculos de sol, da menina que teve o pai policial, morto em confronto com assaltantes, do Antenor Bonfim, ex- secretário de Estado, sepultando a filha Milena, executada por um bandido, quando passava na frente de um banco, da mãe e filha que não se viam há 30 anos. Choro de gente rica, choro de gente pobre, lágrimas que dariam para formar um pequeno lago.
Mas não conheço lamento mais marcante do que o choro dos pais de crianças desaparecidas. Alguns há mais de vinte anos, derramam lágrimas de incerteza, por não saber aonde o filho foi parar. Se está alegre ou triste, se está vivo ou se está morto. Vejam o caso Everton, conheci o pai do menino, o Zézo, antes mesmo do desaparecimento, pois trabalhei com o pai dele o saudoso José Vicente, radialista das antigas. Jovem, bem casado, Zézo ainda comemorava a aprovação no concurso de Oficial de Justiça do Estado, quando começou o pesadelo que já dura 20 anos.
Funcionário público, com um bom salário, casa no Centro Cívico, não tinha o que dar errado na vida dele. Ainda me lembro daquele dia 23 de dezembro de 1988. Estava de plantão na rádio Cidade, quando soube do desaparecimento. Parece que foi ontem, mas quando olho para ele, enxergo a realidade. Envelhecido pela dor, problemas cardíacos, Zézo tem estampado na face às marcas do sofrimento. Quando converso com ele tenho a impressão que tem vontade de dormir e não acordar mais. Não sei onde encontra tanta força. Everton então com quatro anos, desapareceu da frente de casa, na rua Celeste Santi, no Centro Cívico.E aquele Natal que seria de festa, foi o primeiro pesadelo de muitos. De lá para cá o caso rolou, passou por 15 delegados e até hoje, não se têm uma solução.
Mas assim como a família Gonçalves várias outras sofrem este mesmo tormento e continuam pergutando: Aonde está meu filho? Todos os anos a polícia registra o desaparecimento de dezenas de crianças no Paraná. Algumas nunca voltam para casa. São 22 famílias que vivem um pesadelo que parece não ter fim.
Crimes perfeitos ou maus investigados? Se olharmos apenas para os números frios das estatísticas, veremos que o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas - SECRIDE, órgão da polícia criado em 1995, pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná - SESP, para investigar esses casos, tem feito um bom trabalho. Entre 1996 e 2006 foram registradas 929 queixas.Deste total, apenas 09 permanecem sem solução, algo em torno de 1%. No entanto, para quem vive na pele o drama de um filho desaparecido, o aproveitamento da polícia é de 0%. A pergunta que se faz é a seguinte: Porque esses casos nunca foram esclarecidos? Porque ás famílias nunca tiveram uma resposta efetiva do tipo "Seu filho foi vítima de um pedófilo ou então foi levado para fora do país por uma quadrilha ligada ao tráfico internacional de crianças, ou ainda ele foi adotado por uma família e está morando em tal lugar? Como pai, tenho a capacidade de saber o quanto representa um filho, mas jamais poderei mensurar a dor que estes pais sentem. Por isso decidi que tinha que fazer algo mais para tentar de algum jeito ajudar essa gente.Após quatro anos nos bancos da Universidade Tuiuti achei que um livro seria uma boa coisa.