terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Vivian, VIVA?




Era final da tarde de quinta-feira, 5 de novembro de 2009, estava conversando com alguns amigos na redação da rádio Banda B, quando seu Luiz Ubaldino Polli Florêncio e a esposa Marlene Cacciatore Florêncio chegaram. Disseram-me que vinham do Jornal Tribuna do Paraná, onde haviam dado entrevista e, agora, queriam ajuda da Banda B, para mais uma vez noticiar o desaparecimento da neta Vivian Cacciatore Florêncio, sumida na noite de 4 de março de 2005, quando tinha apenas 3 anos. A romaria dos avós pelas redações de veículos de comunicação, desta vez, tinha uma razão em especial. No sábado, dia 7, a menina completaria 8 anos. O repórter Bruno Henrique, que estava de plantão, levou o casal para um dos estúdios de gravação a fim de fazer uma reportagem para o Jornal da Banda B e eu fui junto. Por mais de 40 minutos conversamos sobre o caso.




Viviam foi fruto do relacionamento da artesã Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38 anos, com o sargento da Polícia Militar Edson Prado, lotado no Grupo Águia, uma espécie de esquadrão de elite, que, através do serviço velado, investigava assaltos na estradas do Paraná. Maria Emília estava com dificuldades financeiras, pois, além de Vivian, tinha dois filhos para sustentar. Aconselhada pela família, ela entrou em contato com o PM, que tinha outra família, para solicitar pensão alimentícia. Um encontro foi marcado para o início da noite de 4 de março, na praça Tiradentes, centro de Curitiba.



Maria saiu de casa no conjunto Santa Efigênia, no Barreirinha, passou na creche onde a filha estava e, juntas, foram ao encontro marcado. Para os outros filhos, Maria Emília disse que iria se encontrar com uma amiga. “Ela não falou que ia se encontrar com Edson, porque as outras crianças não gostavam dele”, relatou seu Luiz. “Naquele dia, vi minha filha pela última vez”, lembrou dona Marlene. Cinco dias depois, em 9 de março, um rapaz, que caminhava por um matagal, achou o corpo de Maria Emília em Campina Grande do Sul (Região Metropolitana de Curitiba).



Morta com um tiro na cabeça, foi enterrada numa cova rasa. Estava nua e com as mãos e pés cobertos com cal, uma maneira de adiantar a decomposição e dificultar o reconhecimento do cadáver. A criança sumiu. Naquela mesma noite, Prado apanhou outra amante, uma aspirante a oficial da PM, no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, no bairro Jardim das Américas. Segundo o delegado Jaime Luz, da Delegacia de Homicídios, Prado agiu assim, talvez para ter um álibi caso as suspeitas recaíssem sobre ele. Ao ser ouvida no inquérito, a policial disse que achou estranho o sargento estar com os sapatos sujos de barro e folhas. Ainda naquele mês, ele foi preso e sempre negou o crime.



Segundo depoimento dado ao delegado Jaime Luz, Edson alegou que realmente marcou o encontro com Maria Emília, mas não compareceu. Durante as investigações, outro episódio chamou atenção. A viatura descaracterizada que ele usava foi apreendida e encaminhada para exames no Instituto de Criminalística, a fim de apurar a existência de vestígios que pudessem levar a polícia a comprovar o crime com um dado material. Porém, estranhamente, alguém foi até o Instituto e, se passando por policial da Delegacia de Vigilâncias e Capturas, liberou o carro.



Levado a júri popular, o sargento Prado foi condenado a 18 anos de prisão, pela morte de Maria Emilia, mas continua calado quando é questionado sobre Vivian. Esse silêncio tem incomodado os avós, que continuam criando os filhos de Maria Emilia, Evandro e Vanessa. “Nós temos o culpado. Eu não sei por que, até hoje, não foi desvendado este mistério. Eu pergunto para as autoridades por que não vão pra cima do criminoso ‘pra’ ele dizer onde está minha neta?”, questiona angustiado seu Luiz. “Bandido como ele é, Vivian seria testemunha do crime. Sou franco em dizer que não tenho mais esperança de encontrar minha neta com vida”. Já a avó tem outra opinião e diz, num misto de esperança e angustia, que “dói muito falar sobre a Vivian, porém eu sinto, no meu coração, que ela está viva. Assim como eu crio o Evandro e a Vanessa, os outros irmãos, tenho a esperança de ter a Vivian comigo de novo.”



Antes de sair do estúdio, os dois fizeram um pedido para mim e o Bruno: “por favor, nos ajudem! Não deixem que as autoridades esqueçam da nossa neta”.

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